terça-feira, 24 de agosto de 2010

Saudade

Saudade. Quem é que não sente isso. Ou nunca sentiu. Creio eu que não existe alguem que nunca tenha sofrido disso.
Nem que essa saudade seja pequena, ela existe. Mas no meu caso a saudade é grande. E de tantas coisas, e pessoas, e momentos.
E é disso que hoje eu vou escrever.
Eu sinto saudade da infancia, como todas as pessoas que ja passaram por ela. Eu sinto saudade das brincadeiras, da inocencia, de falar as coisas sem pensar. De correr pela casa, de brincar na areia, na terra. De me sujar. Chego quase a sentir saudade das broncas, tapas. Dos tombos. Dos joelhos ralados, cotovelos e canelas roxas.
Do medo de ir até a panificadora do outro lado da rua sozinha, e do prazer que aquilo me dava. De comer doces escondido da mamãe com o papai no bar. De ganhar coca cola dos amigos dele. Saudade de andar de roler, de patinete (É, eu tive um), de aprender a andar de bicicleta. Sinto falta de andar de skate, mas não sinto a minima saudade do tombo que me fez ser proibida de fazer isso novamente.
A saudade que eu sinto da minha infancia me faz sentir saudade de alguem muito especial. Vô.
Um homem maravilhoso, que ajudou a me educar. Que me dava doces as vezes, mas que implicava por eu comer demais. Alguem que brigava comigo, mas que me protegia. Que ficava na porta do quarto conversando comigo quando eu adoecia. Que arranjava remedios absurdos pras minhas doenças de criança. Que contava historias maravilhosas sobre exercito e a segunda grande guerra. Que falava da mina de ouro, de fundição. Que pra mim sempre foi e sempre será o homem mais forte do mundo. Inteligente, alegre. Que me ensinou a dançar valsa, que me ensinou a gostar de suas musicas antigas. Que contava as mesmas historias tantas vezes que os netos e filhos perdiam o interesse, mas eu sempre estive ali pra ouvir quantas vezes ele quisesse contar e sempre querendo mais. E ele morreu, e eu não ouvi todas as vezes que eu queria as historias dele. E eu não disse a ele que eu o amava vezes o suficiente. Ele se foi e hoje não há nada que eu possa fazer pra alcança-lo e dizer a ele que ele sempre foi um pai pra mim, e que eu o amo de uma forma que não consigo explicar. Mas o que me conforta é saber que antes dele morrer ele sabia disso.
Meu avô foi a unica pessoa proxima a mim que eu perdi pra morte. A unica pessoa que se foi pra nunca mais voltar. Acho que é por isso que mesmo hoje, depois de quase 5 anos sem ele eu ainda sinto doer a falta dele. Que eu acordo e penso em como ele esta, onde.
Sinto saudade dos dias no Boa Vista. Aquele lugar foi meu lar por toda minha infancia e parte da minha adolescencia. La eu conheci pessoas inesqueciveis.
Pensar naquele lugar e naquelas pessoas me faz sorrir. Me faz lembrar de passar horas na escada conversando coisas inuteis, de correr de bicicleta, de pular muros. Lembro de passear com os cachorros que não eram meus. De cortar a grama da casa que não era a minha. Sentar na garagem e ouvir musicas que hoje eu nem gosto mais, mas na epoca eram otimas. De aprender a beber. Do primeiro porre. da grande bronca que veio depois.
Do meu primeiro cigarro dado por algum garoto. De andar de carro pelo bairro com pessoas que eu nem gosto mais. De dormir na casa das amigas. De comer pizza com o joelho todo machucado. De jurar marcar uma outra noite e nunca marcar. Saudade de fazer brigadeiro e comer jogando video game. Das tardes de domingo que eu passava no msn conversando com pessoas de longe que aprendi a amar sem nem mesmo te-los encontrado. Pessoas que até hoje eu gosto mas que ainda não conheci.
Sinto saudade do primeiro namorado, de encontra-lo na saida da escola, de passar a tarde namorando em casa, de comer cachorro-quente a noite com ele. De comer sfiha no come-come. De ter a compania dele mesmo depois de termos terminado. De ele ter me acompanhado no meu primeiro dia de aula no CEP, detalhe que ele ja havia se formado.
Sinto saudade da casa do Boa Vista. Do seu longo corredor, dos seus comodos grandes, de suas janelas grandes e barulhentas. Saudade das casinhas-deposito no terreno. Lembro de mim mesma com raiva quebrando-lhe todas as janelas, estourando portas. E de sair de lá sem olhar pra trás. E hoje não há mais nada lá. A casa que meu avô sofreu tanto pra construir não existe mais, foi demolida pra que em seu lugar fossem construidos dois sobrados de muito mal gosto.
Sinto alguma falta de acordar antes do sol nascer pra ir pro colegio. De esperar no ponto do onibus os meus amigos. De sentar na bapka pra fumar e esperar o horario da entrada. Dos dias frios. Saudade de sentar no bosque em hora de aula e beber como doidos. Das brincadeiras. De rodar até cair no chão. De dormir num ombro. De ir trabalhar com ele. Saudade de gritar com meus amigos. De rir muito disso. Saudade de alguem amado, de um caminho longo, de uma casa, de pães de queijo. De um dvd. De alguns filmes.
Sinto saudade do verão passado. De conhecer pessoas otimas. Saudade até mesmo de passar horas em frente ao shopping esperando pra ouvir uma desculpa sem sentido qualquer. De fotos na extinta area de fumantes do shopping. Saudade de tomar um vinho quente sentada na praça. Saudade de shows.Da merda feita. Da reconciliação na praça. Saudade de fazer panquecas. De um ano novo bom. Saudade de cantar com voce.
Hojse sinto saudade da felicidade que eu tive tantas vezes e de tantas formas diferentes que eu sei que nunca mais terei igual.
Sinto saudade de algo recente. Saudade de andar de moto de madrugada, com frio e chuvinha. De chegar em sua casa com as pernas congeladas. De chocolates amargos. De um prato de brigadeiro e uma caneca de chá no dia dos namorados. De um apelido bonitinho vindo de alguem tão ogro. De um quarto bagunçado com posters grudados. Saudade de uma jaqueta de couro. Do cheiro do dono dela. Saudade das longas discuções sem sentido que irritavam a todos, menos a nós. As discuções que nos uniram tantas vezes. Saudade de um beijo roubado. Saudade.
Sinto saudade de quem está longe de mim, mas que por uns poucos dias estivemos juntos. Saudade. Não sinto saudade de me perder na rodoviaria, nem das longas 6 horas dentro do onibus, mas ja sinto saudade da alegria de encontra-lo. Não sinto a minima falta do transito daquele lugar, mas sainto falta da sua compania e do seu sotaque bonitinho. Ja sinto saudade do show, das pessoas brincando comigo por eu falar diferente. Saudade do abraço gostoso, do beijo que eu já sentia saudade. Não sinto a minima falta do mala que enxeu a noite toda, mas sinto falta das risadas que ele me fez dar. Sinto falta de um sabado sem nada a fazer. De um filme que eu não assisti, mas a compania era perfeita. E confesso que não sinto a minima saudade de voltar pra casa. E muito menos de ver ele ir embora. Maas....


Eu sinto saudade de tanta coisa que eu tenho certeza que não coloquei tudo aqui. Eu não tenho a memoria perfeita. Mas sei dizer que saudade doi. As vezes é bom, melhora o reencontro, mas doi.

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