sexta-feira, 26 de abril de 2013

Exorcizando mais um demônio da minha vida.


Eu acredito que a gente só consegue contar uma historia depois que ela acabou. Depois que as feridas fecharam e ficaram, no máximo, algumas cicatrizes. Só podemos contar uma historia quando ela passou, se tornou apenas uma historia mesmo, e não é mais parte da sua vida.
Depois de um ano e meio, quase dois anos eu acho que está na hora de contar essa historia. Vomitar todos os restos. É uma maneira de lavar as cicatrizes da minha pele.
Eu sempre exorcizo meus demônios assim. Contando a historia, fazendo com que se passe toda novamente pela minha mente, escorrendo por minhas mãos e deixando que morra no papel.
Essa é uma das minhas historias tristes. Talvez comovente, mas isso não importa. Não estou contando isso para comover ninguém. Quero apenas jogar todo o lixo no lixo pra poder seguir em paz com meus pensamentos e sentimentos.
Não é segredo pra ninguém que eu tive um namoro a dois anos atrás que terminou de uma forma... cruel, talvez. Eu não tenho problemas em dizer isso pra qualquer um que pergunte. Mas eu tenho problemas em expressar o que senti naquela época, o que passava pela minha mente. E algumas coisas, eu admito, ainda estão em meus pensamentos. Estão gravados na minha alma. Escrito a fogo para nunca mais se apagar.
Não importa, eu sou mais forte que essas marcas.
Na época todos sabiam que estávamos brigando demais, mas pra mim as coisas ainda eram normais. Pra mim ainda nos amávamos como sempre e tudo ficaria bem, era apenas uma fase. Eu estava com a mente em paz, mesmo com as brigas. Mas pra ele era demais.
Muito depois eu percebi que talvez a culpa não tenha sido das brigas, ou minha. A culpa foi de quem ele conheceu, do que ele fez. Da falta de caráter dele.
Creio eu que esteja certa a respeito disso. Essa garota entrou na empresa que ele trabalha, e ela era tudo que ele admirava, fisicamente falando. Ruiva, tatuada, com dezenas de piercings espalhados pelo corpo e uma pose de “sou fodona”. Mas ao invés de ser honesto comigo, ele preferiu brincar um pouco. Sabe como é, demônios se divertem com os sentimentos dos outros. Eu sei bem.
Eu tenho plena certeza que por um tempo ele esteve comigo e com essa garota. Procurando formas de terminar comigo e ao mesmo tempo continuar me tendo em sua cama. Claro, ele não queria perder o que tinha. Só queria mais.
Numa certa noite tudo estourou. Nós já havíamos brigado muito no dia do aniversario da minha mãe, ele conseguiu destruir o aniversario da pessoa mais importante do meu mundo, e eu não me importei. Eu estava tão cega que não me importei com a minha própria mãe. Até hoje me sinto mal por isso. Mas eu me sinto mal por muitas coisas que aconteceram naquele tempo.
Havia se passado um dia. Nós conversamos, ele dizia que me amava e que tentaríamos mais. Mas algo mudou no dia seguinte. Eu senti que ele queria brigar novamente, ele procurava em todas as minhas palavras e atitudes um motivo, um estopim para começar de novo.
Mas eu não percebi, e me lembro de me culpar por meses. Por meses eu senti a culpa de ter acabado aquele noivado.
É, já éramos noivos. Ele havia pedido para se casar comigo. Eu acreditava em suas palavras.
Naquela noite ele foi embora, me deixando arrasada para trás. Eu achei que ele também estava sofrendo, mas agora vejo que não. Ele não sofreu porque ele já tinha outro alguém. E eu estava completamente sozinha.
Eu estava desesperada e aquele maldito havia me deixado doente. Eu estava doente e dependia dele pra me sentir bem. Ele, por meses, manipulou meu emocional e psicológico para ser totalmente dependente dele para se sentir em paz, feliz.
E quando eu vi ele sair portão a fora, eu quebrei. Eu desliguei meu lado racional e agi como uma completa idiota maluca. Chorei, gritei, corri atrás dele na rua. Deixei que ele me jogasse na rua, que me empurrasse pra longe, caindo e me machucando. Mas a dor emocional era muito maior que a física. Ele foi embora, e eu fiquei ali, no chão em todos os sentidos possíveis da expressão. Sozinha. Machucada. Chorando.
Naquela mesma noite consegui magoar minha mãe, brigar e apanhar da minha irmã e deixar meu pai péssimo.
Eu acabei aquela noite na minha cama, machucada, chorando e querendo morrer.
E por várias noites e dias que seguiram a esse episodio eu me senti assim. Eu não queria viver. Eu só pensava em como eu morreria. Não poderia viver sem ele.
Muito depois eu percebi que eu estava doente. Depressão. Tão pateticamente obvio, já que eu sou uma pessoa que tem essa doença. Ela não tem cura, acreditem. Ela se esconde por uns tempos, apenas.
Os dias foram passando e eu já não tinha nenhum amor próprio ou orgulho. Eu rastejei atrás dele, implorei, chorei. Fiz tudo que uma pessoa nunca deve fazer por outra. Ainda mais se essa outra pessoa em questão não está dando a mínima pra você.
Ele dizia que ainda me amava mas que não suportava nossas brigas. Quanta mentira numa frase só, meus deuses. E eu acreditava. E chorava, e me arrependia. E implorava.
Quantas vezes naquelas semanas que seguiram o dia que ele saiu da minha casa ele me humilhou, nossa. Foram incontáveis vezes. Na rua, nas praças, no shopping, na casa dele. Em qualquer lugar. E eu sempre estava quieta, deixava que ele fizesse tudo isso. Eu não era eu naqueles tempos. Eu era uma sombra do que um dia fui. Na realidade, nem uma sombra eu era. Eu não existia.
Eu não consigo lembrar de todos os detalhes da crueldade dessa criatura, porque minha mente bloqueou boa parte das minhas lembranças daqueles dias. Uma forma de me proteger, acreditem.
Durante esses dias horrorosos eu também encontrei coisas boas. Mesmo que eu só tenha notado isso tempos depois.
Minha melhor amiga havia me mandado uma música de uma banda que ela ama, e disse que valeria a pena eu ouvir e ver a tradução, pois fazia sentido com o que eu estava passando.
E eu ouvi. E aquelas palavras da letra entraram na minha mente. A melodia e a voz maravilhosa dos cantores ficou nos meus ouvidos, ressoando e pedindo para ser ouvida novamente. Por dias e dias foi o único som que eu ouvi.
Por um momento me perdi no tempo, vou explicar aqui.
Quando ele me disse que não adiantaria eu fazer mais nada, ele estava com outra, meu mundo parou, ruiu em cima de mim. Me afundou.
Eu achava que estava no fundo do poço quando estava indo atrás dele, tentando uma chance. Mas quando ele me disse isso eu senti e quase ouvi meu coração quebrando. Não é brincadeira ou excesso dizer isso. Eu realmente senti.
Chorei. Cansei de chorar. Dormir. Tive sonhos, acordei chorando. E eu queria ficar sozinha, no silencio. Expulsei meus pais do meu quarto tantas vezes que uns dias depois eles não tentavam mais falar comigo. Eu chorava dia e noite. Eu parei de comer. Eu não saia da cama. No máximo me arrastava até o banheiro uma vez ao dia.
Não estou brincando. Eu passei pelo menos duas semanas só tomando água ou algum iogurte que alguém deixava no quarto enquanto eu dormia. Eu chorava, me afogava naquela dor maldita.
Eu fiquei mais doente. Alem da depressão meu corpo enfraqueceu, eu não tinha forças pra sair da cama mais. Meus músculos ficaram doloridos, minhas pernas ficaram fracas. Eu havia ficado duas semanas sem comer ou sair da cama. Eu tinha largado o colégio. Eu estava desistindo de viver.
Por varias vezes estive com objetos cortantes em mãos, pressionados contra minha pele. Mas covarde como sou, não tive capacidade de me matar. Graças aos deuses.
Mas eu quis. Eu tentei me jogar em carros na rua, tentei tomar remédios em excesso. Quis usar todos os tipos de drogas possíveis pra tentar acabar com a minha vida.
Não consegui que nenhuma das coisas acima funcionassem. Então entrou a musica que eu falei antes.
Aquelas palavras entraram na minha cabeça. E então eu, usando as palavras da música como apoio resolvi que iria viver, melhorar e que jamais iria ver ele novamente.
And don’t you dare come back and try to make things right, ‘cause i’ll be ready for a fight” Era o que dizia a frase que eu repeti mil vezes a mim mesma. A letra da musica era inteira feita pra mim. Parecia que aquele caras me conheciam, sabiam o que tinha acontecido comigo e tinham escrito aquela letra pensando em me ajudar. Era quase isso que eu sentia ao ouvir a voz de Danny Jones e Tom Fletcher cantando POV.

"I never wanted everything to end this way,
But you can take the bluest sky and turn it gray.
I swore to you that I would do my best to change,
But you said it don't matter,
I'm looking at you from another point of view,
I don't know how the hell I fell in love with you,
I'd never wish for anyone to feel the way I do."

Pelo que me lembro eu levei dois dias pra sair de casa e voltar a estudar. Eu estava fraca, machucada, doente, mas eu tinha um motivo pra levantar. Uma musica, não importa. Era o meu motivo.
Eu ainda explodia em crises de choro a qualquer momento, mas eram apenas crises e elas passavam.
E depois de sair de dentro do meu casulo, do meu inferno pessoal, eu vi que eu não estava sozinha.
Alem da minha melhor amiga, que foi a primeira a me ajudar e as vezes acho que nem ela sabe o tamanho do bem que fez. Ela salvou minha vida com uma musica.
Alem dela eu tinha as pessoas do colégio. Nem todos eram meus amigos íntimos, mas todos fizeram seu papel em me ajudar quando precisei. Mas dois em especial me salvaram naqueles dias.
Nunca me deixavam sozinha, sempre ao meu lado pra tudo. Pra estudar, pra fumar, pra conversar, pra comer. Pra tudo eles estavam comigo. E eu devo muito a eles, mais do que eles imaginam.
Aquelas noites no colégio acompanhada por eles me ajudaram a voltar a sorrir, diminuíram as crises de choro até que elas desaparecessem.
A maior vitoria foi realmente voltar sorrir com alegria. Foi voltar a brincar.
Meu lado emocional estava muito frágil. Eu não podia me envolver com ninguém, amorosamente. Mas eu estava quase viva de novo.
Eu ainda era uma pessoa amarga, fria. Distante. Viciada em cigarros e bebidas. Mas eu estava quase viva.
Na mesma época que eu tinha apoio desses dois amigos no colégio, eu encontrei em uma pessoa absolutamente improvável alguém importante pra mim. Alguem que até hoje faz a diferença na minha vida. O melhor amigo do meu ex.
Isso soa absurdo, eu sei, mas o melhor amigo do cara que destruiu minha vida me ajudou a colocar as coisas no lugar. Mesmo com gestos pequenos e algumas palavras. Ele me ajudou, ele colaborou na minha volta a vida.
Com um anel ele fez com que eu parasse de sentir falta da aliança a muito perdida. Com algum tempo ele me apresentou pessoas que me faziam rir e ter um motivo pra sair de dentro de casa nos fins de semana. Com palavras de apoio ele me ajudou a ficar em pé.
Cada pessoa que vivia comigo naquela época teve sua participação na minha volta a vida, mas obviamente não me recordo tudo que todos fizeram.
Mas eu sei que foi durante aqueles meses que eu conheci a melhor pessoa do mundo. Meu melhor amigo. Culpa do twitter.
E então eu viajei com meus amigos pra praia. E eu me diverti de verdade pela primeira vez depois que minha vida havia desmoronado.
E foi ali que eu me declarei devidamente curada. Mas me proibi de me apaixonar.
Eu tranquei meu coração a sete chaves. E joguei fora todas as chaves, eu não queria mais amar ninguém. Passei a considerar o amor uma coisa que era perigosa pra mim.
Eu ajudava e apoiava a todos em suas paixões e sempre admirei os casais formados ao meu redor. Mas eu estive sempre sozinha.
E feliz. Devidamente completa, curada, viva e feliz sozinha.
Eu levei quase dois anos pra descongelar o coração. Alguem deve ter achado as sete malditas chaves do meu coração e abriu ele de volta, mas por sorte eu ainda estou conseguindo me manter forte.
E agora eu olho pra trás e vejo que eu era apenas obcecada por ele. Apenas isso. Não era amor já havia tempos. Era apenas uma obsessão, uma dependência. Como uma droga.
Ele não passou de um vicio meu. Que passou.
Agora eu olho para aqueles dias e percebo que eu nunca amei ele de verdade. Eu fui apaixonada, claro. Eu era dependente dele, mas eu não o amava.
Eu sei o que é o amor, e não é aquilo.
E enfim eu consegui escrever tudo que passei. Não detalhei muito os piores momentos, mas acho que qualquer um que leia entende a profundidade da minha dor na época. A extensão das feridas.
E claro, as marcas que as palavras dele deixaram em mim. Como pude esquecer de falar sobre isso?
É o que mais me prejudica hoje. É o que ainda destrói minha vida, mesmo agora que superei tudo em relação a ele.
Aquelas malditas palavras repetidas mil vezes em meus ouvidos. Isso me marcou, me mudou. Me destruiu um pouco. E ainda não recuperei-me disso.
A crueldade de algumas pessoas não tem limite, e nem mesmo eu posso saber onde isso chega.
Por muitas vezes eu ouvi e fui levada a acreditar, por ele, que eu jamais seria boa suficiente pra alguém. Gorda, feia, desinteressante, irritante, chata, burra, lerda. E daí pra pior.
Ouvir isso uma vez já é horrível, agora imagine como foi ouvir isso incontáveis vezes, ser trocada por outra pessoa, ser humilhada. Imagine o que isso pode fazer com a auto estima de alguém.
Destrói, acredite. Eu perdi totalmente a auto estima, a confiança nas pessoas. Eu passei a acreditar que todos os homens que se aproximam de mim querem apenas se divertir e depois me jogar fora, assim como ele fez.
Eu fui levada a acreditar que não passo de uma noite de diversão, que não sou boa suficiente para ficar mais do que isso na vida de alguém. Que não sou boa suficiente para ser importante pra uma pessoa.
E não importa o quanto eu lute contra esses pensamentos, eles sempre voltam a me assombrar. Sempre. E por mais que eu pareça confiante e totalmente egocêntrica, eu não sou. Eu não acredito em nada do que eu digo sobre eu ser linda, maravilhosa e tudo mais. E isso tudo é culpa dele.
Foi um pedaço meu que foi brutalmente assassinado e que eu não consegui, ainda, fazer voltar a vida.

2 comentários:

  1. Ô Nara!
    Quando eu li os primeiros parágrafos não tive como não me identificar, também faço morrer as coisas quando escrevo sobre elas.
    Fico feliz que tenha escrito sobre isso, no seu tempo, da sua maneira.
    E você vai ficar bem! Tudo vai ficar bem!

    Saudades de você =*

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  2. Nara. Vi hoje o link pro seu blog no facebook e parei pra ler. Achei esse post.
    Você É importante. E vale muito mais do que qualquer cretino que passou pela tua vida possa te fazer pensar.

    Todos nós temos os nossos fantasmas, e por mais que a gente tente, não dá pra exorcizá-los... Temos que achar a convivência pacífica e tirar a força disso. É aquele velho clichè: não nos mata, nos torna mais fortes.

    Não perca a fé em você mesma nunca ;)

    Beijão

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